Pr. Ícaro Alencar de Oliveira
Texto-bíblico: “Sabendo primeiramente isto: Que nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação.” (2Ped. 1.20).
Leitura bíblica em classe: Mat. 13.1-23.
Hinos do Cantor Cristão: 481. Ao lar Celestial | 489. Céu para mim | 506. Junto ao trono.
A. Breve História da Interpretação.
NENHUM assunto é tão importante para a Escatologia do que a interpretação dos textos proféticos; o modo como lemos essas porções bíblicas serão muito afetados pelo modo como o texto é interpretado e estes são os textos que mais têm sofrido com interpretações errôneas durante a história do cristianismo.
Os primeiros cristãos interpretavam todas as porções do texto sagrado considerando o uso normal, literal e gramatical dos textos proféticos; eles afirmavam a doutrina do quiliasmo (milênio literal futuro) e criam que Jesus Cristo voltaria segunda vez antes do milênio começar. Em 190 d.C. alguns teólogos passaram a interpretar a Bíblia de modo diferente; em Alexandria foi desenvolvido o método “alegórico”. Segundo Mal Couch “A palavra ‘alegoria’ significa literalmente ‘dizer outra coisa’ ou buscar um significado oculto. A alegoria é exatamente o contrário da interpretação literal”.[1]
B. Escola Literal versus Escola Alegórica.
Em Apocalipse 20.1-6 lemos sobre os mil anos do reino de Jesus Cristo; se lermos o texto de modo literal, isso favorecerá o pré-milenismo, que afirma o milênio literal e a segunda vinda de Cristo antes do milênio. Se for interpretado alegoricamente, então a visão de um milênio ‘simbólico’ ou ‘espiritual’ e a segunda vinda de Cristo depois do milênio (defendida pelo Amilenismo e Pós-milenismo) será favorecida. Aqueles que afirmam que hoje vivemos no milênio espiritual interpretam textos os proféticos de modo alegórico; Floyd E. Hamilton reconheceu: “É preciso admitir francamente que a interpretação literal das profecias do Antigo Testamento apresenta o cenário de um reino terreno do Messias tal qual proposto pelos pré-milenaristas”.[2] Diante das palavras deste alegorista, concluímos que a divergência entre o dispensacionalismo e amilenismo não é se os textos proféticos ensinam um reino literal; isto a escola alegórica reconhece; o ponto é como os textos que falam sobre o reino messiânico, são interpretados.
C. Interpretação Literal das Profecias.
A interpretação literal das Escrituras considera as palavras em seu sentido básico e natural, em seu contexto histórico, sem a necessidade de impor qualquer “chave interpretativa” ou subterfúgio além da palavra pura; o entendimento de um termo não vai além de seu sentido natural e geral. Apesar de várias vezes se fazer uso de símbolos e alegorias para comunicar verdades espirituais, o significado de tais símbolos, parábolas e alegorias não é alegórico, antes, comunica verdades literais. Vejamos estes exemplos:
a. O método literal não elimina parábolas e alegorias, apenas afirma que elas comunicam verdades literais. Em Mateus 13.1-23, temos três sessões: Jesus conta a parábola do semeador (vs. 1-9); Jesus explica o motivo de falar por parábolas (vs. 10-17); Jesus explica a parábola aos discípulos (vs. 18-23). No final das contas, observaremos que as parábolas usam alegoria para comunicar verdades literais; assim, por meio de uma interpretação literal podemos presumir a existência de coisas literais. No método alegórico o leitor é entregue de mãos atadas à imaginação do intérprete, de modo que não há um padrão comum a ambos (ao leitor e ao intérprete) para que se analise a validade da interpretação ou do método alegórico.
b. O método literal não elimina o uso de símbolos, apenas afirma que cada símbolo representa algo literal. Em Apocalipse 1.16 Jesus tinha em suas mãos sete estrelas; a seguir, ele explica que aquele símbolo indicava algo literal: os sete anjos das sete igrejas (Ap. 1.20); no mesmo verso aparecem os sete castiçais de ouro, que são as sete igrejas, outra verdade literal; muitos outros símbolos usados em Apocalipse para representar coisas literais: as harpas e salvas de ouro cheias de incenso são as orações dos santos (Ap. 5.8); as muitas águas eram multidões de povos (Ap. 17.15). Portanto, fugimos do erro da interpretação alegórica que tenta espiritualizar várias profecias bíblicas, e assumimos que apenas uma interpretação literal das profecias pode de fato ser coerente com o princípio de que a Bíblia é sua própria intérprete.
D. O Perigo da Interpretação Alegórica.
Existem vários problemas com a interpretação alegórica. A seguir veremos alguns exemplos:
a. A interpretação alegórica é autodestrutiva e não oferece objetivos claros. Tal método não sustenta a si mesmo; para que possa ser entendido, precisa ser interpretado literalmente; neste sentido afirmou Norman Geisler: “nenhum alegorista deseja que nós interpretemos suas declarações alegoricamente — ele deseja que seus textos sejam interpretados literalmente”.[3] Além disso, o método não oferece critérios claros, deixando o intérprete por demais livre, e não cativo à autoridade da Palavra de Deus como sua intérprete. A única passagem bíblica que afirma ser uma alegoria é Gál. 4.21-31, e ainda assim, os símbolos nela empregados falam de verdades literais, e se enquadram nos símbolos, acerca dos quais falamos anteriormente.
b. A interpretação alegórica fornece uma interpretação errônea das profecias messiânicas, do reino de Deus e dos eventos futuros. Em sua primeira vinda, Cristo cumpriu nada menos do que 113 profecias, e todas se cumpriram literalmente; algumas delas são: “Jesus foi literalmente a semente da mulher (Gn 3.15), a descendência de Abraão (15.1-6), da tribo de Judá (49.10), o filho de Davi (2Sm 7.12ss.), nascido de uma virgem (Is 7.14), na cidade de Belém (Mq 5.2); Ele sofreu pelos nossos pecados (Is 53), morreu aproximadamente [no ano] 33 (cf. Dn 9.24-27), e ressuscitou dos mortos (Sl 16.10; cf. At 2.30-32)”.[4] Considerando este padrão, é estranho assumir que as profecias devam ser interpretadas alegoricamente. O padrão que Cristo usou para afirmar que uma profecia se cumpriu é encontrado em Luc. 4.17-21, quando Jesus leu Is. 61.1,2; o padrão de cumprimento é literal.
E. CONCLUSÃO.
Interpretar as profecias de modo alegórico é contrário à autoridade das Escrituras: “todo significado verdadeiro é um significado literal”;[5] as profecias devem ser interpretadas igual às demais porções das Escrituras: o método histórico-gramatical, que corresponde ao método literal. A Teologia Aliançalista cai neste erro ao espiritualizar profecias do AT sobre o reino messiânico confundindo-o com o reino espiritual atual; ao confundir Israel e Igreja, afirmam que os textos proféticos do milênio se cumprem espiritualmente na igreja, hoje; mas nos próximos estudos as Escrituras mostrarão que as coisas não são assim.
QUESTIONÁRIO
1. Como os primeiros cristãos interpretavam os textos proféticos?
2. Explique como Ap. 20.1-6 tem sido interpretado pelos alegoristas.
3. Explique o que é o método literal.
4. Como o método literal considera as parábolas, alegorias e símbolos proféticos? Explique.
5. Quais os principais perigos da interpretação alegórica? Explique.
Notas:
[1] Citado em LAHAY, Tim. Enciclopédia Popular de Profecia Bíblica.
[2] HAMILTON, Floyd E. The basis of millennial faith, p. 38-39, citado em PENTECOST, J. Dwight. Manual de Escatologia.
[3] GEISLER, Norman. Teologia Sistemática. vol. ii. p. 834.
[4] GEISLER, Norman. Teologia Sistemática. vol. ii. p. 836.
[5] Ibid. p. 862.