(A CONSERVATIVE CHRISTIAN DECLARATION)
Fonte: <http://religiousaffections.org/articles/articles-on-conservatism/introducing-a-conservative-christian-declaration/>
Preâmbulo: Sobre a Necessidade do Cristianismo Conservador
Em seu discurso de despedida dos anciãos de Éfeso, Paulo declarou que ele estava “limpo do sangue” de todos, porque ele não se restringiu em entregar-lhes “todo o conselho de Deus” (At. 20:26-27). No seu núcleo, o cristianismo conservador pretende seguir o exemplo de Paulo ao transferir com sucesso todo o conselho de Deus à próxima geração.
Historicamente, os cristãos se comprometeram a perpetuar o cristianismo bíblico buscando a verdade, a bondade e a beleza absolutas. Essas realidades transcendentes, fundamentadas no caráter de Deus, são expressas através de Suas obras e Sua Palavra. Em todos os tempos, os cristãos decidiram acreditar na verdade de Deus, viver a bondade de Deus e amar a beleza de Deus, preservando esses transcendentes criando expressões, formas e instituições capazes de suportar seu peso.
Mais recentemente, muitos cristãos abandonaram seu compromisso com esses ideais e, portanto, estão falhando, num aspecto ou noutro, em buscar o cristianismo bíblico completo. O resultado é um credo encolhido, uma piedade mirrada e uma adoração que se tornou irreverente e trivial. Nós nos opomos a esse reducionismo religioso e desejamos recuperar toda a herança da doutrina, da obediência e da adoração cristãs. Também nos opomos aos movimentos que tentam preservar tradições que não são cristãs bíblicas, mas sim um progressismo vindo do passado. Uma inovação não se torna menos inovadora devido à sua antiguidade. As doutrinas humanamente inventadas, objetos de piedade e os elementos do culto nunca serão parte de uma tradição verdadeiramente cristã.
A seguinte declaração reafirma um compromisso histórico para toda esfera do Cristianismo Conservador. Acreditamos nos princípios transcendentes e absolutos de verdade, de bondade e de beleza; estamos confiantes de que esses princípios são cognoscíveis e estamos determinados a alinhar nós mesmos e nossos ministérios a esses princípios, em nossa busca por todo o conselho de Deus. Também nos comprometemos a conservar essas instituições e formas que melhor refletem um reconhecimento e respeito por essa ordem transcendente. Uma vez que a cultura é alimentada dentro de sistemas de valores e não é criada no vácuo, cada criador de cultura se baseia no que foi feito antes. Consequentemente, escolhemos construir sobre as formas que foram nutridas na comunidade da fé cristã, afirmando que elas melhor expressam o caráter transcendente e a natureza de Deus.
Oferecemos este documento com um amor profundo por Cristo, Seu evangelho, Sua Palavra inerrante e Sua igreja, e com um humilde desejo de ajudar as igrejas a conservar e alimentar o cristianismo histórico e bíblico, afirmando os ensinamentos da Bíblia em relação à verdade, à bondade, à beleza e às afeições corretamente ordenadas na vida e no ministério.
ARTIGOS DE AFIRMAÇÃO E NEGAÇÃO
Sobre o Evangelho
AFIRMAMOS que o evangelho de Jesus Cristo é a delimitação da fé cristã (ICor. 15). Também afirmamos que ignorar esse limite concedendo reconhecimento cristão a quem negou o evangelho é rebaixar o próprio evangelho (IIJo. 1:10).
NEGAMOS que a comunhão cristã seja possível com aqueles que negam os fundamentos do evangelho, incluindo (entre outros) a inerrância das Escrituras, o nascimento virginal, a divindade de Cristo, a expiação do sacrifício e a justificação pela graça somente, pela fé somente, em Cristo somente.
Artigo II
Sobre todo o conselho de Deus
AFIRMAMOS que o centro e o ápice da fé e da comunhão cristã são todo o conselho de Deus, incluindo a crença correta, a vida correta e a afeição correta (Deut. 6:1-9). Afirmamos ainda que a transmissão do cristianismo bíblico envolve necessariamente a preservação e o cultivo de todo o sistema de fé (At. 20:27).
NEGAMOS que crer no evangelho somente é adequado para uma adoração, uma comunhão e uma devoção Cristã saudável.
Artigo III
Sobre o Transcendente
AFIRMAMOS que a verdade, a bondade e a beleza são realidades transcendentes enraizadas na natureza de Deus e, finalmente, inseparáveis uma da outra (Filip. 4:8). As crenças são verdadeiras quando correspondem ao entendimento de Deus; os atos são bons quando correspondem ao entendimento de Deus sobre a virtude; os objetos são belos quando eles estão cumprindo o propósito de Deus de maneira que lhe seja agradável segundo sua natureza Divina. No entanto, as crenças, morais e afeições corretas nem sempre são transparentes, de modo que sua verdade, bondade e beleza relativas exigem um cuidadoso julgamento para se discernir.
NEGAMOS que a crença correta seja suficiente para agradar ao Senhor. Também negamos que a verdade, a moralidade ou a beleza se tornem coisas diferentes em relação a diferentes sujeitos de percepção (embora reconheçamos que os homens nunca percebem de maneira particular e absoluta). Negamos ainda que as crenças, morais e afeições corretas sejam sempre fáceis de discernir.
Artigo IV
Sobre as Afeições Ordenadas
AFIRMAMOS que os cristãos podem falar da ortopatia, ou das afeições corretamente ordenadas, e de culto apropriado (Deut. 6:5; Mat. 22:37; Heb. 12:28). Como as doutrinas do evangelho são fundamentais para o cristianismo, assim é ordenado o amor por Deus.
NEGAMOS que o cristianismo seja apenas um consenso ou um compromisso com um conjunto de proposições doutrinárias que explicam o evangelho.
Artigo V
Sobre os Apetites
AFIRMAMOS que a manipulação dos apetites viscerais é perigosa para adoração ordenada e a piedade cristã (Filip. 3:19).
NEGAMOS que a transmissão da verdade bíblica possa ser administrada corretamente através do uso de métodos que atraem os apetites. Negamos ainda que as afeições sagradas possam ser expressas na adoração, empregando formas estéticas que, por desígnio, agitam os apetites.
Artigo VI
Sobre a beleza
AFIRMAMOS que a beleza existe na realidade e deve ser procurada por todos os crentes (Filip. 1:9-11). Afirmamos também que o reconhecimento da beleza é fundamental para o culto e a devoção, e uma aproximação correta para com Deus envolve tanto um reconhecimento como uma resposta adequada à beleza de Deus (Sal. 29:2).
NEGAMOS que a beleza seja imposta a um objeto pelo observador e que ela seja nada mais do que o prazer do espectador. Também negamos que as pessoas de julgamentos e percepções torcidas possam corretamente conhecer e amar a Deus.
Artigo VII
Sobre o Culto Escriturísticamente regulado
AFIRMAMOS que a adoração a Deus é regulada através da sua Palavra. A inovação, por mais bem intencionada que seja, é “devoção voluntária” (Col. 2:23), viola as consciências livres dos cristãos individuais (Rom. 14:5,23) e, portanto, está desagradando a Deus (Mat. 15:9). Afirmamos que as circunstâncias da adoração são questões de prudência, informadas pelo bom julgamento que vem através da afeição ordenada (Prov. 9:10).
NEGAMOS que Deus deseje ou esteja satisfeito com a inovação em matéria de fé. Negamos que o silêncio da Palavra de Deus sobre as circunstâncias da adoração as torne amorais, ou seu modo de implementação, uma questão indiferente.
Artigo VIII
Sobre as Obras de Imaginação
AFIRMAMOS que as afeições ordenadas são muitas vezes expressas e evocadas através de obras de imaginação, que operam através de símile e metáfora. Entre elas estão a música, a poesia, a literatura e outras artes. A própria Palavra de Deus é uma obra de imaginação. Pelo menos duas obras de imaginação são ordenadas para adoração: poesia e música (Col. 3:16).
NEGAMOS que Deus possa ser conhecido e corretamente amado apenas através da cognição e da compreensão intelectual de declarações proposicionais objetivas sobre Deus.
Artigo IX
Sobre a Harmonia e a
Variedade na Expressão Ordenada
AFIRMAMOS que expressões excessivas de adoração geralmente surgem de corações envolvidos em amores desordenados. Afirmamos que as expressões de ortopatia são fundamentadas em harmonia com a Divina percepção final da verdade, da bondade, e da beleza, conforme revelada na Escritura e observada na ordem criada. Afirmamos também que as expressões de amor ordinário a Deus variaram entre as idades e civilizações. Afirmamos ainda que essas diferentes expressões, no entanto, são equivalentes, representando a mesma ortopatia.
NEGAMOS que as expressões desordenadas em relação a Deus, embora inconsistentes com o verdadeiro amor cristão, sempre ou necessariamente traem afeições desordenadas. Também negamos que a harmonia com a ordem criada conduzirá a completa uniformidade de expressão ou a falta de variedade. Negamos ainda que a variabilidade das expressões culturais faça essas expressões sem sentido e, portanto, sem moralidade.
Artigo X
Sobre o Significado
AFIRMAMOS que as expressões em relação a Deus, quer sejam orações, pregações de sermões, poemas ou música, podem ser analisadas pelo seu significado e julgadas pela adequabilidade ao culto. Afirmamos que a compreensão dos significados é obtida tanto pela Escritura como por fontes fora da Escritura: julgamentos corretos sobre o significado natural podem ser feitos tanto por crentes como por incrédulos (At. 17:28).
NEGAMOS que a natureza subjetiva dessas expressões torna impossível fazer um julgamento verdadeiro. Negamos que buscar o conhecimento do significado fora da Escritura compromete sua autoridade final ou nega sua suficiência (Sal. 19, Rom. 1:20ss).
Artigo XI
Sobre a Cultura Popular
AFIRMAMOS que grande parte da cultura popular é formulada, sentimentalizada, e tende à banalidade e ao narcisismo. Afirmamos que muita música popular, através da sua forma estereotipada, não possui a capacidade de comunicar a verdade transcendente, a virtude e a beleza, que são fundamentais para o culto. Afirmamos ainda que os modos de expressão que emergiram de eras em grande parte pelas forças secularizadoras da cultura popular são muitas vezes incompatíveis com a afeição ordenada.
NEGAMOS que uma rejeição seletiva da cultura popular seja equivalente ao elitismo ou um desdém pelo crente mediano. Também negamos que não existam exemplos contemporâneos de ortopatia, ou que a ortopatia possa ser encontrada unicamente no passado.
Artigo XII
Sobre o Cultivo da Tradição Cristã
AFIRMAMOS a importância de iniciar nossa busca pela adoração sadia e pela vida santa dentro dos limites das tradições que herdamos dos santos de toda a era da igreja (IITim. 2:2, Filip. 3:17). Muitos desses crentes, mesmo aqueles com quem teríamos desentendimentos teológicos significativos, tiveram uma compreensão mais clara do que é amar a Deus corretamente, do que nós temos. Afirmamos o valor da aprendizagem a partir da cultura que se desenvolveu ao redor e em resposta ao crescimento do cristianismo.
NEGAMOS o esnobismo cronológico que ignora o passado, o anseio ingênuo de uma idade de ouro passada e a inclinação pós-moderna de isolar e selecionar elementos da prática cristã histórica para se adequar ao gosto pessoal. Negamos ainda que a cristandade represente o cristianismo puro e sem mistura.
Artigo XIII
Sobre a Música Congregacional de Hoje
AFIRMAMOS que as igrejas do século XXI, bem como as igrejas de todas as épocas, devem adorar a Deus em suas próprias palavras, com sua própria voz. Adicionamos a qualificação de que essas expressões devem incorporar a afeição ordenada e construir sobre a tradição que as representa, ao mesmo tempo em que responde à imaginação do século XXI. Afirmamos ainda que todas as pessoas devem cantar com compreensão (ICor. 14:15) e que a boa música ou poesia podem ser simples. Finalmente, afirmamos que a música da igreja deveria ser bela.
NEGAMOS que escolhas musicais sejam feitas para apaziguar ou atrair um determinado círculo eleitoral na igreja. Negamos que o cristão mediano seja capaz de apreciar apenas o tipo mais simples de música. Nós negamos que a boa música ou poesia que valha a pena pode ser superficial, trivial, banal ou clichê. Ao mesmo tempo, também negamos que os cristãos devem adorar com formas que lhes sejam incompreensíveis para eles.
Artigo XIV
Sobre os nossos filhos
AFIRMAMOS a necessidade de passar esses valores para os nossos filhos através da catequese regular, no fiel culto familiar, e pelo acolhimento de todas as idades no culto público de nossas igrejas (Deut. 6:7, Ef. 6:4). As crianças aprendem a correta adoração ordenada e têm suas imaginações e afeições adequadamente moldadas em grande parte através da observação e da participação. Assim, as igrejas devem incentivar as famílias a adorar juntos nos encontros gerais da igreja, tanto quanto possível ou prático.
NEGAMOS que a família seja mais importante ou substitua uma igreja local. Nós negamos ainda que possamos adotar um modelo de ministério infantil que visa entreter nossos filhos e ainda esperar que eles aprendam a graça da adoração com significado.
Artigo XV
Sobre as Igrejas Locais e a Soberania de Deus
AFIRMAMOS o primado da igreja local na conservação e nutrição do cristianismo histórico e bíblico. Afirmamos que os anciãos piedosos devem ensinar pacientemente a Palavra de Deus e modelar a crença, o viver e o amor de maneira correta (ITim. 3:15; 4:16). Afirmamos ainda que tais esforços devem ser totalmente dependentes da vontade soberana de Deus, que será ao fim das contas, realizada (Dan. 4:34-35).
NEGAMOS que a transmissão da fé cristã ocorra principalmente por indivíduos isolados, em famílias desconectadas das igrejas locais ou através de ministérios para-eclesiásticos. Negamos ainda que a preservação do cristianismo dependa, em última instância, dos escassos esforços de pessoas finitas e especialmente de qualquer metodologia pragmática, ou programas.
11 de Janeiro de 2014,
Os seguintes pastores e professores ajudaram a escrever este documento: Scott Aniol, Kevin T. Bauder, David de Bruyn, Ryan J. Martin, Jason Parker, Michael Riley.
Tradução em Português por Ícaro Alencar de Oliveira. 1ª Edição. 2017.