Pr. Ícaro Alencar de Oliveira
A cada 45 minutos uma pessoa se suicida no Brasil. O mês de dezembro foi testemunha do suicídio de dois pastores. Tais tristes eventos reacenderam o debate sobre se um cristão verdadeiro pode cometer suicídio e se um suicida pode ser salvo. Tem se tornado cada vez mais comum nos círculos cristãos a afirmação de que é possível um cristão verdadeiro tirar sua própria vida e ser salvo. Segundo estes, o único pecado imperdoável é a blasfêmia contra o Espírito Santo (cf. Mat. 12:31,32). Vejamos o que a Bíblia diz sobre o assunto:
i. O suicídio é blasfêmia contra o Espírito Santo. Escrevendo aos Coríntios, Paulo diz: “Não sabeis vós que sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destruir o templo de Deus, Deus o destruirá; porque o templo de Deus, que sois vós, é santo” (ICor. 3:16,17).
ii. A Bíblia considera o suicídio um ato pecaminoso. Norman Geisler afirmou que a diferença entre o suicídio e o martírio é que o suicídio é um ato feito “para si mesmo”[1], enquanto o martírio é para o outro; é um sacrifício pelo outro. De todos os casos de suicídio mencionados nas Escrituras, nenhum deles é tido como sendo algo honroso, mas vergonhoso e pecaminoso. Nenhum foi mencionado como tendo aprovação de Deus: Abimeleque (Jz. 9:50-56); Saul (ISam. 31:1-6); Zinri (IRe. 16:18-19); Aitofel (IISam. 17:23) e Judas (Mat. 27:3-10).
iii. Sansão não se suicidou. Muitos afirmam que Sansão cometeu suicídio (Jz. 16:23-31); porém ele pediu que Deus o fortalecesse uma última vez; ele não se suicidou, mas se sacrificou pelo povo; ele não morreu “para si mesmo” mas pelo bem de sua nação: “e foram mais os mortos que matou na sua morte do que os que matara em vida” (Jz. 16:30b).
iv. Jesus Cristo não se suicidou. A morte não poderia matar Jesus Cristo, no entanto, Ele “rendeu o espírito” e “expirou” (Mat. 27:50; Luc. 23:46); portanto, Jesus se entregou à morte como sacrifício, não “para si mesmo”, mas pelo bem e em favor da vida de outros, a saber, nós: “Áquele que não conheceu pecado, o fez pecado por nós; para que nele fôssemos feitos justiça de Deus” (IICor. 5:21).
v. O suicídio é considerado assassinato. Deus ordenou: “Não matarás” (Êx. 20:13), e isto inclui tirar a própria vida. Deus é o único que tem o direito de tirar a vida; o rei de Israel estava ciente disso, quando recebeu a carta do rei da Síria pedindo-lhe que curasse a lepra de Naamã: “Sou eu Deus, para matar e para vivificar [...]?” (IIRe. 5:7). Paulo disse que “[...] a lei não é feita para o justo, mas para [...] os homicidas” (ITim. 1:9). Jesus Cristo disse que “[...] quanto [...] aos homicidas, [...] a sua parte será no lago que arde com fogo e enxofre; o que é a segunda morte” (Ap. 21:8). Se alguém tira a sua vida, o tal é homicida.
vi. Conclusão: O suicídio é um ato extremamente triste para todos, para a própria vítima, e principalmente para a família; certamente Deus não o aprova. Nenhum verdadeiro crente se mata, mas apenas aquele que jamais foi de fato um salvo, ainda que tenha feito confissão falsa de fé. A razão para o atual estado de coisas é que os homens estão cada vez mais bêbados de si mesmos; os homens embebedam-se de seu ego; enchem-se de si mesmos, e nesta vida egoisticamente ébria, estão tão cheios do eu que o único modo de tentarem desesperadamente aliviar-se de si mesmos é vomitando as suas próprias vidas, tirando-as; cometendo suicídio. Os jovens hoje estão cheios de seus próprios problemas, e suas próprias dores os enojam; os homens estão cada vez mais alheios a Deus e incapazes de transcender; incapazes ainda, de buscar fora dos seus vícios (o ego), o modo de preencher o vazio existencial que apenas pode ser obtido fora deles próprios (em Deus). É por esse motivo que o evangelho é tudo sobre Cristo e nada sobre o homem: porque jamais encontraremos em nós mesmos coisa alguma que seja para proveito e benefício espiritual. Se nos enchermos de Deus, jamais nos esvaziaremos do grande dom que Deus nos deu e que apenas ele tem o direito de tomar para si: a vida.
Notas:
[1] GEISLER, Norman; HOWE, Thomas. Manual de Dificuldades Bíblicas: respostas para mais de 780 passagens polêmicas. São Paulo: Mundo Cristão, 2015. pp.131, 147, 295.