O USO DE ‘EKKLESIA’ NO NT
O termo ‘Ekklesia’ ocorre 115 vezes no Textus Receptus (NT grego fiel)[1]. É importante para nós compreendermos a maneira como o termo foi empregado pelo fato de que muitas destas ocorrências têm sido usadas como uma forma de defender a existência da suposta igreja universal visível (segundo os católicos) ou da suposta igreja universal invisível (segundo os protestantes). Nós, Batistas da Promessa negamos que haja essa tal igreja universal, seja ela invisível ou visível; afirmamos que existem apenas as igrejas locais visíveis (cf. Ap. 1:11). Para Hélio de Menezes, destas ocorrências do termo ekklesia no NT, há dois sentidos gerais:
i. Mero ajuntamento de pessoas sem ser no sentido de igreja neotestamentária.
No Textus Receptus Grego do NT, 5 das 115 ocorrências do termo não dizem respeito a uma igreja neotestamentária (At. 7:38; 19:32, 39,41; Heb 2:12). Estas passagens não dizem respeito às igrejas, mas ao uso geral de reuniões, ajuntamento e convocação de cidadão, seja do povo de Israel no deserto (At. 7:38; Heb. 2:12), uma reunião de adoradores da deusa Diana (At. 19:32), ou ainda uma reunião de cidadãos (At. 19:32,39, 41).
É importante salientar que, embora o termo não significasse uma igreja neotestamentária, o termo traz em seu âmago o sentido de uma reunião visível que ocorre num local específico; é no mínimo estranho que se alegorize e se espiritualize tanto o sentido simples das palavras inspiradas que jazem nas Escrituras, quanto suas implicações.
ii. Ajuntamento de pessoas no sentido de igreja neotestamentária (Mt 16:18; 18:17; At 9:31).
Quanto ao uso do termo em referência às igrejas neotestamentárias, há basicamente três sentidos específicos do termo: 1º sentido: uma igreja local específica. 2º sentido: a igreja como um conceito ou instituição (generalizadamente). 3º sentido: a igreja local total futura. Quanto às ocorrências no Texto Grego, afirma-se que:
57 das 115 ocorrências do termo ‘ekklesia’ no singular, referem-se à uma igreja local específica e visível, independente de qualquer outra, e que se reúne num lugar específico (Mat. 18:17a, 17b; At. 2:47; 5:11; 8:1,3; 11:22,26; 12:1,5; 13:1; 14:23,27; 15:3,4,22; 18:22; 20:17; 20:28; Rom. 16:1,5,23; ICor. 1:2; 4:17; 6:4; 10:32; 11:18,22; 14:4, 5,12, 19,23,28,35; 16:19b; IICor. 1:1; Filip. 4:15; Col. 4:15, 16; ITes. 1:1; IITes. 1:1; ITim. 3:5,15; 5:16; Fm. 1:2; Tg. 5:14; IPed. 5:13 (não contamos, pois faz parte dos títulos e anotações, não do texto da Bíblia em si); IIIJo. 1:6,9,10; Ap. 2:1,8,12,18; 3:1,7,14;).
O termo foi usado para referir-se a uma igreja local específica: “Saudai também à igreja que está em sua casa.” (Rom. 16:5a); “Todavia eu antes quero falar na igreja cinco palavras na minha própria inteligência [...]” (ICor. 14:19a) “porque é vergonhoso que as mulheres falem na igreja” (ICor. 14:35b).
36 das 115 ocorrências do termo ‘ekklesia’ no plural, referem-se às igrejas locais, específicas, e visíveis, independentes de quaisquer outras, e que se reúnem num lugar específico (At. 9:31; 15:41; 16:5; Rom. 16:4,16; ICor. 7:17; 11:16; 14:33,34; 16:1, 19a; IICor. 8:1,18,19, 23,24; 11:8,28; 12:13; Gál. 1:2,22; 1Ts 2:14; 2Ts 1:4; Ap. 1:4,11, 20a, 20b; 2:7,11,17,23,29; 3:6,13, 22; 22:16).
O termo no plural indica um conjunto muito específico de igrejas locais: “Assim, pois, as igrejas em toda a Judeia, e Galileia e Samaria tinham paz, e eram edificadas; e se multiplicavam, andando no temor do Senhor e consolação do Espírito Santo” (At. 9:31); “os quais pela minha vida expuseram as suas cabeças; o que não só eu lhes agradeço, mas também todas as igrejas dos gentios” (Rom. 16:4); “É o que ordeno em todas as igrejas” (ICor. 7:17b).
16 das 115 ocorrências do termo ‘ekklesia’ tem simultaneamente o sentido de igreja como instituição, conceito, e da igreja local total futura (Mat. 16:18; ICor. 12:28; 15:9; Gál. 1:13; Efé. 1:22; 3:10,21; 5:23, 24, 25, 27, 29, 32; Filip. 3:6; Col. 1:18,24).
O sentido de generalização não significa que haja a suposta igreja universal além da igreja local. O termo foi utilizado de forma generalizada, dos múltiplos crentes, membros das múltiplas comunidades locais neotestamentárias de salvos, nos muitos lugares. O termo normalmente é usado para referir-se aos fatos espirituais que são aplicados e que são verdadeiros à todos os crentes e nas suas respectivas igrejas locais: “Portai-vos de modo que não deis escândalo nem aos judeus, nem aos gregos, nem à igreja de Deus” (ICor. 10:32); “E a uns pôs Deus na igreja, primeiramente apóstolos, em segundo lugar profetas, em terceiro doutores, depois milagres, depois dons de curar, socorros, governos, variedade de línguas” (ICor. 12:28); “e sujeitou todas as coisas a seus pés, e sobre todas as coisas o constituiu como cabeça da igreja” (Ef. 1:22); “Para que agora, pela igreja, a multiforme sabedoria de Deus seja conhecida dos principados e potestades nos céus” (Ef. 3:10).
iii. O ensino bíblico versus o ensino Católicos e Protestante.
O ensino bíblico é totalmente diferente do erro de Agostinho de Hipona (354-430 d.C.), o qual afirmou a suposta Igreja Católica Visível, afirmada por ele a fim de manter o poder temporal da igreja e do bispo de Roma sobre outras igrejas locais; as Escrituras também combatem o erro de Martinho Lutero (1483-1546 d.C.), o qual afirmou a suposta Igreja Católica Invisível, afirmada por ele a fim de providenciar uma resposta para seu movimento Reformador e das Igrejas Protestantes que daquele movimento se originaram, como a Igreja Presbiteriana e a Anglicana, por exemplo. É importante lembrar que os Anabatistas foram perseguidos tanto por Católicos Romanos como Reformados (como por Martinho Lutero, João Calvino e Ulrico Zuínglio por exemplo), por afirmarem i. a existência de tão somente igrejas locais; ii. a autonomia de cada igreja local visível; iii. o batismo por imersão em nome da santíssima trindade; iv. rebatismo de quem saía de igrejas que praticavam o batismo de bebês e se uniam aos Anabatistas.
iv. A igreja é apenas local e visível.
A igreja é a maneira mais próxima que o Reino de Deus se manifesta visivelmente a nós e por meio da qual o Reino se expressa; por meio igreja local trabalhamos para o avançar do Reino de Deus. A igreja é a agência do Reino; a igreja visível é a reunião de Cristãos que se conhecem e se auxiliam e trabalham em amor para o crescimento mútuo; isso é o que Paulo intenta fazer os irmãos em Corinto entenderem (ICor. 12 a 14). As igrejas (plural) são crentes reunidos, batizados biblicamente (em tempos terem suas próprias de consciências), participantes da Comunhão, e igrejas que são independentes umas das outras e que são co-irmãs (Rm 16:4; ICo 7:17).
v. Conclusão.
De um olhar mais escatológico, podemos chegar à conclusão de que a igreja, a assembleia dos salvos também será apenas local, quando todas as igrejas locais se encontrarem e formarem uma só igreja local na Jerusalém Celestial, como lemos nas palavras do apóstolo Paulo: “Mas chegastes ao monte Sião, e à cidade do Deus vivo, à Jerusalém celestial, e aos muitos milhares de anjos; à universal assembleia e igreja dos primogênitos, que estão inscritos nos céus, e a Deus, o juiz de todos, e aos espíritos dos justos aperfeiçoados” (Hb 12:22,23). A ideia Católica, tanto a Romana quanto a Reformada é errônea quando vista diante de um exame acurado e sincero à luz das Escrituras (At 5:11; 8:1; ICo 1:2; 4:17; IICo 1:1; Cl 4:15; ITs 1:1; Ap 1:4,11).
QUESTIONÁRIO
i. Por que é importante compreender a maneira em que o termo ‘ekklesia’ foi utilizado no NT?
ii. Quantos e quais são os sentidos gerais do termo ‘ekklesia’?
iii. Quantos e quais são os sentidos específicos do termo ‘ekklesia’?
iv. Mencione 4 motivos que levaram os Católicos e Protestantes a perseguirem os Anabatistas.
v. Existe a igreja universal e igreja local? Explique
NOTAS
[1] SILVA, Hélio de Menezes. Eclesiologia: a Doutrina das Igrejas dos salvos do Novo Testamento. Disponível em <http://solascriptura-tt.org/EclesiologiaEBatistas/03Os3 SentidosDeIgreja-Helio.htm>. Acessado em 04/12/2017.